Escrevo de cabeça e não vou mencionar datas. Muitos anos atrás, estava passando dias em casa de tia Gilma, em Itapuan, quando, de repente, ví na televisão aquele rapazinho, cantando uma música que me chamou a atenção. O cara era baiano e todos torcíamos para que ele ganhasse aquele festival. Era um santo-amarense na grande metropole. O cara cantava e mandava ver, era a grande novidade, pra mim, depois de Raulzito e seus Panteras. A música que ele cantava era Alegria-Alegria. Era diferente. Um estilo que me pareceu novo. Havia guitarra e, naquela época, a guitarra era sinônimo de alienação. Sempre defendi que era preciso inovar e o violão podia sim ceder lugar, quando cabível, ao eletrizante som da guitarra. A torcida foi imensa mas não deu pra ele ser o primeiro colocado e, ai veio aquela coisa de que "perdeu porque não era lá do sul", "perdeu porque era baiano", ou "foi marmelada". Ufanismo à parte, bem que merecia ter vencido, afinal, era minha favorita. Mas, só o fato de um baiano aparecer disputando uma final já foi uma grande vitória pra Bahia, que andava tão apagada no cenário nacional. Caetano fez renascer em nós o orgulho de sermos baianos e, até, santo-amarense. Aconteceu coisa semelhante com Betânia, quando ela despontou cantando Carcará. A interpretação dela era impecável. Tinha carinha de menina virgem...Foi o que me veio à cabeça naquela época. Gil cantando Domingo no Parque também muito nos orgulhava. A baianada estava pintando no cenário nacional. Mas tudo acontecia fora da Bahia. O sucesso estava fora daqui. Tudo corria pra lá... Ainda me parece ser assim, apesar das melhoras. Mas ficamos reféns de alguns gêneros musicais, algo tipo deve ser o violão, ou a guitarra? Então tem muito "jabá" e o mercado se fechou. Nós não podemos ouvir um U2, ou os Rolling Stones, porque a cultura daqui é igual ao que o violão representava para o tempo da bossa-nova. Guitarra não podia, não. Caetano rompeu essa barreira, apesar de ter ficado meio bossa nova e rock and roll. Era a tropicália nascendo em um momento de grande efervescência cultural. Movimentos contra a guerra do Vietnã pipocavam pelos estados Unidos e as idéias pacifistas chegam até nós, como chegavam as noticias do racismo lá existente, tal qual na África do Sul. Internamente vivíamos uma ditadura e o sonho de liberdade estava estampado no rosto da juventude, que começou a se rebelar, levando os mais aguerridos à luta armada. Era o tempo em que os baianos estavam no hit parade, nas revistas e viraram manchete.
Sou de Salvador, mas minha família vem da mesma terra de Caetano. A letra de Alegria Alegria era um hino pra mim e Caetano foi se firmando cada vez mais. Pô, ele tomava uma "coca-cola" que era simbolo do imperialismo americano!
A história de vida dele é bacana. É um poeta de mão cheia. Sensivel e muito polêmico. Políticamente ele dá muitas mancadas. Gosto muito dele e sou seu fã, sim senhor. Também gosto de Gil, Betânia e Gal, do Tom Zé, Capinam, como gosto dos Novos Baianos. Fui crescendo e comigo também foi crescendo a adimiração que tenho por este rapaz, que, pra sorte minha, pertence a minha geração, como Raulzito, também.
Também recordo do dia em que ele e Gil falaram no programa de França Teixeira. Gil cantou Aquele Abraço. Eles anunciavam o show no Teatro Castro Alves para angariar fundos rumo ao exílio. Tinha até uma piada sobre a quantidade de gente que estava sendo obrigada a sair que se criou uma frase bastante interessante: O ÚLTIMO A SAIR APAGUE A LUZ! O Brasil bem humorado do Pasquim foi o maior barato, Caetano também. O casamento dele com Dedé fou uma loucura. Pra finalizar, ele é um guri que aprontou e agora tem pinta de "pacato" cidadão, ou não?
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