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quinta-feira, 29 de maio de 2014

ARTIGO DA SEMANA

DEPOIS DAS CHUVAS
Vitor Hugo Soares
Nada como os grandes desastres que se abatem sobre populações inteiras e a visão dos dramas que se seguem, entrando pelas casas do país, em imagens instantâneas de coberturas jornalísticas, como a conduzida por Fátima Bernardes na quinta-feira, direto do Morro do Bumba, em Niterói, para desnudar o que a fauna humana tem de melhor e pior nas duas pontas opostas de seu espectro.
No Rio de Janeiro desta semana – assim como nas recentes tragédias causadas pelos terremotos no Haiti e no Chile – as situações se assemelham em grandiosidade e em pequenez: heróis anônimos, em geral gente desconhecida da própria comunidade surgem de repente do lamaçal, de dentro das águas ou dos círculos de poeira e escombros.
Pessoas de todas as idades. Uma delas, a menina de oito anos que Fátima entrevista no final da sua pungente e humana reportagem no JN. Laura Beatriz narra sua experiência pessoal dolorosa e comovente no meio do caos, da dor incontida e dos gemidos em volta, enquanto tudo desmorona. No final, a mensagem surpreendente de que é preciso não jogar fora a esperança que ainda resta: “ainda tenho muito a viver”, diz a menina.
Tudo vale a pena, se a alma não é pequena”. Penso em seguida nas palavras do poeta enquanto observo as imagens dos voluntários generosos vindos de lugares próximos da favela fluminense, ou de países distantes, armados de infinita coragem e vontade de ajudar. Cidadãos despreendidos, técnicos capazes.
E o contraste com o bate-cabeça desordenado de governantes e administradores insensíveis, sem planos e sem idéias do que fazer efetivamente. A não ser esperar a chuva passar, para ver “como a gente vai resolver os problemas”. Enquanto isso, repisam surrado discurso de outras tragédias. Acusam a “ocupação desordenada dos terrenos urbanos e dos lixões abandonados”, jogam pedras em governos passados , “que em mais de 50 anos nada fizeram”, como gosta de repetir o governador Sérgio Cabral.
Em volta, por todos os lados e de todos os partidos, políticos e candidatos que não enxergam um palmo além do próprio umbigo ou da sobrevivência por mais um mandato nas eleições que se aproximam. Na fotografia de O Globo, a ex-ministra Dilma Rousseff, candidata do peito do presidente Lula à sua sucessão, confraterniza-se alegremente com o ex-governador Garotinho, até recentemente apontado como responsável por metade das desgraças do Rio de Janeiro das últimas décadas.
Agora a culpa é jogada sobre mortos. Um deles, o ex- governador Leonel Brizola, que no túmulo em que descansa no Rio Grande do Sul, nem pode responder. Na hora de acusar, não falta quem lembre até de outro gaúcho; Getúlio Vargas.
Simbolicamente, até a histórica e sempre afetuosa ligação Rio-Bahia anda ameaçada pelos efeitos da catástrofe. No meio das chuvas devastadoras no Rio – pouco antes do desmoronamento no Morro do Bumba, que previsões indicam pode ter soterrado até 200 pessoas – saiu o relatório da auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU). O levantamento revela que, entre 2004 e 2009, o estado do Rio recebeu menos de 1% do total de recursos destinados à prevenção de catástrofes em todo o país, enquanto a Bahia – terra do ex-ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), virtual candidato de seu partido ao governo no estado – teria abocanhado mais de 60% dos recursos.
O conselho nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que parece despertar da letargia dos últimos anos, quer que o Ministério Público investigue tudo. O presidente da instituição, Ophir Cavalcante, reconhece que a OAB não tem como exigir do poder público certos dados, o que o MP pode fazer, até para afastar esse tipo de acusação ou de coincidência.
“Queremos apenas a explicação. O governo tem que se explicar. É o mínimo que pode ser feito nesse momento”, assinala o presidente da OAB. Na quinta-feira, o presidente Lula saiu em defesa de Geddel, ex-auxiliar destacado de sua administração e aliado político e de palanque em 2010, apesar dos desentendimentos do ex-ministro com o governador petista baiano, de quem quer o lugar no Palácio de Ondina. Novos temporais à vista, desta vez políticos e administrativos, já se vê.
Corte para Nelson Rodrigues, no livro de memórias “A Menina sem Estrela”, em que ele recorda a tragédia dos desabamentos nos anos 60, quando morreu seu irmão Paulo Rodrigues, a mulher dele, dois filhos e a sogra. Nelson escreve:
“Sou outro depois das chuvas. E me admira que eu tenha mudado e os outros não. As pessoas continuam indo à praia, meninas tomam grapete de biquíni. Uma catástrofe eufórica como a de Laranjeiras realmente não influiu na cor de uma gravata… Agora mesmo tenho diante de mim um recorte de jornal. É a croniqueta do poeta Drumond sobre o desabamento. Já vasculhei o papel impresso, já o apalpei, já o farejei, já o virei de perna pro ar…”
Mais Nelson Rodrigues para terminar: “E o papel não diz nada… Preliminarmente, uma catástrofe para seus largos movimentos, exige espaço, exige extensão. E a crônica miúda é um gênero próprio para furtos de galinha, duzentas mortes pedem a abundância de Jorge de Lima da “Invenção de Orfeu”.
E ponto final, por enquanto.
Vitor Hugo Soares é jornalista . E-mail: vitor_soares1@terra.com.br

Epílogo, Gregório de Matos



Gregório de Matos
 
Epílogos

Que falta nesta cidade?................Verdade 
Que mais por sua desonra?...........Honra 
Falta mais que se lhe ponha..........Vergonha. 

O demo a viver se exponha, 
Por mais que a fama a exalta,
numa cidade, onde falta 
Verdade, Honra, Vergonha. 

Quem a pôs neste socrócio?..........Negócio 
Quem causa tal perdição?.............Ambição 
E o maior desta loucura?...............Usura. 

Notável desventura de um povo néscio, e sandeu, 
que não sabe, que o perdeu Negócio, Ambição, Usura. 

Quais são os seus doces objetos?....Pretos 
Tem outros bens mais maciços?.....Mestiços 

Quais destes lhe são mais gratos?...Mulatos. 
Dou ao demo os insensatos, 
dou ao demo a gente asnal, 
que estima por cabedal 
Pretos, Mestiços, Mulatos. 

Quem faz os círios mesquinhos?...Meirinhos 
Quem faz as farinhas tardas?.........Guardas 
Quem as tem nos aposentos?.........Sargentos. 

Os círios lá vêm aos centos, 
e a terra fica esfaimando, 
porque os vão atravessando 
Meirinhos, Guardas, Sargentos. 

E que justiça a resguarda?.............Bastarda 
É grátis distribuída?......................Vendida 
Que tem, que a todos assusta?.......Injusta. 

Valha-nos Deus, o que custa, 
o que El-Rei nos dá de graça, 
que anda a justiça na praça Bastarda, 
Vendida, Injusta. 

Que vai pela clerezia?..................Simonia 
E pelos membros da Igreja?..........Inveja 
Cuidei, que mais se lhe punha?.....Unha.
 
Sazonada caramunha! 
enfim que na Santa Sé o que se pratica, 
é Simonia, Inveja, Unha. 
E nos frades há manqueiras?.........Freiras 
Em que ocupam os serões?............Sermões 
Não se ocupam em disputas?.........Putas.
 
Com palavras dissolutas me concluís na verdade, 
que as lidas todas de um Frade 
são Freiras, Sermões, e Putas. 

O açúcar já se acabou?..................Baixou 
E o dinheiro se extinguiu?.............Subiu 
Logo já convalesceu?.....................Morreu. 

À Bahia aconteceu o que a um doente acontece, 
cai na cama, o mal lhe cresce, Baixou, Subiu, e Morreu.

A Câmara não acode?...................Não pode 
Pois não tem todo o poder?...........Não quer 
É que o governo a convence?........Não vence. 

Que haverá que tal pense, 
que uma Câmara tão nobre 
por ver-se mísera, e pobre 
Não pode, não quer, não vence.



"Mudaram as estações/Nada mudou"

Sebastião Nery

Estava no táxi rumo ao hospital em que minha mãe se encontrava internada. No trajeto o taxista comentava a rádio Metropole, de Mario. Era puro elogio. De repente o celular toca e o taxista atende. Falava com Aninha, uma jornalista, sobre um papagaio. Depois referiu-se a Albergaria, de quem gosta muito. Curioso foi ter qualificado o grande antropologo como "maluco". Entretanto este adjetivo empregado era sinônimo de genialidade, vez que o gênio e o louco são, para nós, fronteiriços. Depois referia-se a Sebastião Nery como um sujeito muito culto e esclarecia: - também quase chegou a ser padre! Tinha que dar risada, dos dois casos e dos dois gênios mencionados pelo taxista. Foi uma viagem divertida, até porque o taxista tem uma boa prosa. Bem, vou transcrever um artigo de Sebastião Nery, que dispensa maiores comentários, basta dizer que ele é um homem completo.


HISTORIAS
                                               DA POLITICA
         RIO – Ele entrou no gabinete do senador Edson Lobão, jornalista e maranhense como ele. O senador o apresentou a um senhor sentado ao lado que, ao ouvir-lhe o nome, se surpreendeu :
         - Mas Mauritono Meira é o nome da minha rua!
         Era o prefeito de sua terra, Mirador, pequena cidade do Maranhão, onde Mauritonio nasceu em 1930. O prefeito, cidadão simples, continuava surpreso de conhecer o homem que deu o nome à principal rua de sua cidade :
         - Puxa, vida! O senhor é tão moço! Eu pensei que o senhor já tivesse morrido há muito tempo.
         Mauritonio Meira foi sempre tocado por algumas pequenas e enormes alegrias, como o reveillon que passava todo ano em Paris e ser nome da ruazinha de sua pequena Mirador, lá no interior do Maranhão.
                                      MAURITONIO
         Aos 16 anos, saiu de lá e foi estudar e trabalhar em Recife. Com 18 anos, já publicava crônicas e contos nos grandes jornais. Com 23 anos, em 53, Samuel Wainer o trouxe para a Ultima Hora, no Rio, onde foi tudo:de repórter policial a colunista diário, repórter internacional, chefe de redação, diretor.
         Saiu para o Jornal do Brasil, onde fez coluna diária e dirigiu o jornalismo da Radio JB. Repórter das revistas “O Cruzeiro” e “Time”, foi editor-chefe do Diário Carioca e, desde 78, editou sua “Revista Nacional”.
          Muito cedo, seu primeiro livro, novela e contos, “Passagem Para o Amanhã” (da Martins Editora), calorosamente saudado por Manuel Bandeira, Raquel de Queiroz, Jorge Amado, Adonias Filho, Antonio Houaiss, Antonio Olinto, Eduardo Portella, Antonio Carlos Vilaça, fez muito sucesso, ganhando o premio do Instituto Nacional do Livro, maior láurea literária da época.  
                                               ADAUTO
         Brilhante contador de historias, o ultimo livro dele, “Historias Alegres do Povo Brasileiro”, é um testemunho bem humorado da política, da literatura, da imprensa, da propaganda, que intensamente viveu, ou com que conviveu, durante mais de meio século, desde Pernambuco, sobretudo no Rio. Contou historias muitas dos políticos que acompanhou durante meiuo século.

Almôço numa churrascaria de Brasília: Adauto Lucio Cardoso (UDN), Abelardo Jurema (PSD), Doutel de Andrade, Guilherme Machado e Ernani Satiro (UDN). Outro deputado começou a traçar um retrato muito critico do ex-ministro da Guerra e ex-presidente marechal Dutra : burro, sargentão, etc.
         Adauto Cardoso ouvia pacientemente, interrompeu :
         - Meu amigo, ele é tudo isso que o senhor está dizendo? Bendita burrice. Ele foi presidente da República. E nós, inteligentes, competentes, gênios, não fomos e não seremos. 
                                      TANCREDO
         Tancredo Neves, do PSD mineiro, era primeiro-ministro, em 62, no governo parlamentarista de João Goulart. Convidou Mauritonio para almoçar no dia seguinte com ele, na casa dele. De manhã, ante de ir para o almoço, Mauritonio passou pela Câmara e assistiu a um violento discurso do deputado Padre Vidigal, do PSD de Minas, contra o primeiro ministro Tancredo Neves.
         Saiu dali, foi para a casa de Tancredo. Quando tocou a campainha, quem abriu a porta foi o Padre Vidigal :
         - Mas, deputado, o senhor aqui? Meia hora atrás, o senhor dava um terrível banho de criticas no Tancredo.
         - Você ainda vai ter que aprender muito aqui em Brasília. Nenhum mineiro resiste a um convite, seja de quem for, para comer frango com quiabo.
         Os três comeram juntos o frango com quiabo.
                                      A TOMADA                                    
         Henri Ford II, presidente da Ford, vinha ao Brasil para uma grande festa da empresa, em São Paulo. O presidente da Ford brasileira, Eugene Knutsen, convocou a agencia Thompson, dona da conta, consultou publicitários amigos de outras agencias, como Mauro Salles, e até trouxe dos Estados Unidos dois engenheiros eletrônicos para prepararem toda a parafernália de som.
         Microfone, alto-falantes, caixas de som, instalaram tudo em dobro. Se um pifasse, o outro estava ali pronto para substituir. Meia hora antes, checaram tudo. Tudo OK, inclusive o discurso de mister Ford, que, para fazer charme, começava com uma simpática frase em português.
         Falaram todos os oradores, Eugene Knutsen, autoridades brasileiras. Tudo saiu perfeito. Mister Ford pegou o microfone para falar e encerrar:
         - Meus amigos, eu me sinto muito feliz...
         Pifou todo o sistema de som. Silencio absoluto. Mister Ford perplexo. Corre-corre,publicitários e engenheiros desesperados,tentando ligar o segundo sistema, sobressalente, e nada. Tudo estava em dobro. Menos a tomada.     
                                       A ELEIÇÃO
         Em Paris, no reveillon de 91, Mauritonio estava desanimado com 92. Não ia haver eleição e não era mais o primeiro ano do governo:    
         - No Brasil só presta ano de eleição ou primeiro ano de governo. No  ano da eleição, fazem alguma coisa para ganharem o voto.No primeiro ano, também fazem alguma coisa porque ainda não esqueceram o que prometeram.
         A partir daí, esquecem tudo e ainda não sabem em que mentir de novo.
                      www.sebastiaonery.com.br  
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terça-feira, 6 de maio de 2014

Revolucione sua Qualidade de Vida‏

Não temos consciência de que o tempo conspira contra a vida. O tempo passa tão rápido. Num instante somos jovens, e no outro idosos. Pelo fato de não sabermos quando findará nosso ultimo suspiro existencial, devemos procurar viver com intensidade cada minuto de nossas vidas.

Revolucione sua qualidade de vida, aprenda a superar o cárcere da emoção e a falar o alfabeto mágico do amor.

Você tem se esforçado para aprender esse alfabeto? O amor irriga a existência com sentido. Sem amor, a vida se transforma num canteiro de tédio.

Você nunca sabe o que acontecerá no dia de amanhã. O ideal não é esperar grandes mudanças para produzir grandes atitudes. Hoje você tem seus filhos, sua esposa, seu marido, seus pais, seus amigos e seus colegas de trabalho. Eles são um grande tesouro.

Mas será que você tem explorado esse tesouro? Será que você não enterrou no solo de suas preocupações, no terreno de sua ansiedade?

Saia para o labirinto e refaça sua agenda. Saia para amar, conquistar novos caminhos, abrir novos horizontes, ser líder do seu próprio mundo.

Faça no ambiente de trabalho um lugar aprazível, criativo e solidário. Quem trabalha angustiado  rouba energia excessivamente do cérebro, vive fadigado. Quem trabalha com prazer renova suas forças, abre as janelas de sua mente e brilha na sua inteligência.

Se você tem filhos abrace-os, curta-os, brinque com eles, pois de que adianta dar-lhes o mundo se o que mais precisam é de você mesmo?

Quando errar ou tiver atitudes exageradas com eles, peça desculpas sem medo. Ensine-os a reconhecer as fragilidades deles reconhecendo as suas. Conte-lhe suas alegrias e seus momentos difíceis. Saia com eles não apenas para passear, mas principalmente para descobri-los. Há pais que vivem por décadas com seus filhos, mas não o conhecem. Os pais que são amigos dos filhos são ricos, mesmo que não possuam fortunas.

Se você tem pais vivos, penetre na história deles, beba de sua sabedoria, beije-os e usufrua de seu convívio o máximo que puder. Tenha tempo para eles como eles tiveram para você.  Eles geraram sua vida cuidaram de você e devem ser amados e honrados.Compreenda seus defeitos e as atitudes deles que lhe feriram. Perdoe-os, ame-os, procure-os. 

Se você é casado, penetre no mundo do seu cônjuge, fale se seu amor por ele, tenho gestos surpreendentes para alegrá-lo. Chore junto. Compartilhe seus sonhos.Traga flores em dias inesperados. Faça elogios por pequenos comportamentos. O amor se irriga todos os dias no território da emoção. Sem cultivá-lo, a falência de uma relação, por mais excelente que seja , é quase inevitável.

A vida sem amigos é um céu sem andorinhas. Se não os tem, cultive-os. Procure-os  para saber como estão, compartilhe experiências. Cuidado! A vida estressante do mundo moderno tem nos roubado o melhor do nosso tempo. Não seja  vítima da solidão. Não se isole em casa , não se feche no mundo da internet. Um bom amigo vale mais do que uma grande fortuna  e pode ser mais útil do que um bom psicoterapeuta.

A vida é um espetáculo de raríssima beleza. Contudo, só aprecia quem é capaz de escrever os principais capítulos de sua vida nos momentos mais difíceis de sua história Percorra territórios nunca antes explorados. Se as oportunidades não surgirem , crie-as. Faça de sua vida uma poesia  e uma grande aventura.Corrija as sua rotas, mas nunca desista de suas metas e nem daquilo que você mais ama.

Se você nunca desistir sua vida será diferente. Você deixará de ser controlado pelos seus problemas e se tornará o autor de sua história!!!

Augusto Cury ( Psiquiatra, cientista e escritor)
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