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domingo, 27 de fevereiro de 2011

Fazenda Sacaibá



O milharal não vingou e o velho umbuzeiro, da Fazenda Sacaibá, resiste nas terras do sem fim. O que seria viver num lugar destes, longe de tudo, cercado pela caatinga, nos anos 50, vivendo à luz de candeeiro, fifós e etc...? Quem tinha bom poder aquisitivo poderia desfrutar de uma geladeira GELOMATIC que funcionava à base de querosene, ou ouvir rádios, à bateria, sintonizando ondas médias e/ou curtas. Haviam os que possuíam carro. Nas áreas rurais o Jeep era o carro mais adequado. Pois bem, como seria minha infância vivendo em um lugar de paisagem encantadora, mas que não tinha nada que representasse progresso. Seria como viver no século XIX, em pleno século XX ? bem, 

O céu é bonito,
o dia é quente,
a noite é fria...

Perto da sede da Fazenda Sacaibá tem um povoado, de Campo Formoso, conhecido como SOCOTÓ.
Desconheço a razão da escolha deste nome para batizar o que hoje é um povoado, antes era apenas um torrão de terra da Fazenda Sacaibá. Interessante é que a casa, cuja foto reproduzimos mais abaixo, não possuía característica das casas grandes, com senzalas. José Gonçalves casou com Esther Carneiro da Cunha, na cidade de Recife. Ela era proveniente de uma família abastada de convictos defensores das idéias abolicionistas, mas esta é uma outra conversa. 

Logo na entrada, em local inadequado, existe um cemitério. Fruto da ausência de planejamento, sem dúvida. Mas, como será viver e conviver junto a um cemitério, casa dos que já se foram? Deve ter aquele lance afetivo, das almas dos parentes que adejam por aquelas paragens. Você seria capaz de morar em local que me parece ser pouco romântico? Os góticos que me perdoem, mas não gosto muito de cemitério. É algo que sinto e não sei explicar, em respeito aos que estão do outro lado da vida. 

Imagine só o que é viver em um local, onde imperava o atraso? Imaginar não custa nada, tente ! Com direito a ver assombrações e vultos, além da mula sem cabeça e outras coisas típicas do nosso imaginário popular.

Devia ser uma inspiração total para os contadores de casos (noturnos) sobre as almas penadas, casas mal assombradas e aquelas conversas sobre a existência de um lobisomem no pedaço. Todas as cidades têm o seu lobisomem que merece. Salvador teve um... Foi descoberto, infelizmente morto e fantasiado. Os Lobisomens do interior, de modo geral, só atacam à noite e só pegam mulheres. Criatividade é o que não falta, né?!

E a falta de jornais, ausência de TV, de escola, tudo isso nos anos 50?! Mas devia haver um rádio, embora fosse caro ter um aparelho de ondas médias e ondas curtas, funcionando na base de baterias. Nada de FMs ! Hoje, certamente, tem uma rádio local, daquelas que o povo inteiro é obrigado a ouvir através dos alto-falantes colocados nos postes.

No final dos anos 70, inicio dos anos 80, do século próximo passado, houve uma grande movimentação de garimpeiros, nas terras de Socotó, na fazenda Sacaibá, onde se descobriu uma mina de esmeraldas. Mas o lugarejo só apresentou mudanças no aspecto no âmbito do conforto residêncial, possivelmente com o aproveitamento da madeira de lei das matas desvirginadas da região. Tem TVs, parabólicas, internet e etc... O progresso, em muitos aspectos, chegou. O resto é "Morte e vida SEVERINA"?!! E haja Severinas para poucos Zés. E ai me ocorre lembrar um costume que é muito característico dos rapazes do interior, que se servem de galinhas, cabras e, até de bananeiras, para saciarem a seca fisiológica e instintiva que padecem estóicamente. 

Aliado ao garimpo, a região em que SOCOTÓ se plantou faz parte do polígono da maconha; pela internet somos informados de prisões ocorridas em Socotó, Tuiutiba, Campo Formoso, cidade sede do município, de pessoas que usam e vendem maconha e outras drogas mais pesadas. Coisas da atualidade...

Só queria saber como seria a infância, de qualquer morador, deste lugar, nos anos 50 e 60. Será que alguém se atreve escrever algo sobre o assunto? Talvez um bom professor, lendo este texto, para exercitar a imaginação dos seus alunos, coloque como dever de casa a tarefa de, cada aluno, fazer uma redação sobre como seria a infância, em um povoado, como acima descrito, nos anos 50 e 60. Bom exercício para a imaginação dos prodigiosas pupilos do "senhor reitor". Os mais afortunados poderiam contratar os serviços particulares de professores, para a alfabetização dos filhos.

E as condições sanitárias, as condições de saúde, como deveriam ser? Preciso saber, pois tem casos de gente que contraiu esquitossomose nas águas da região. Foi erradicado esta chaga? Por falar em chaga, a doença do barbeiro (de chagas)era comum na região? O flebotomo de Jacobina chegava até Campo Formoso? Haveria água encanada, nos anos 50 e 60, em SOCOTÓ E SACAIBÁ? Como eram os sanitários e banheiros? Certamente haviam tanques de água em uma região em que a seca mata muitas cabeças de gado, por precaução. 

Tomava-se banho de cuia ? Em Salvador este chato editor, já tomou banho de cuia dentro de uma bacia, para aproveitamento da água(rs). Na capital, também, era comum, muito comum, beber água de moringa, porrão... Também faltava água. Usavámos candeeiros, lampeões e fifós. O aladim fazia grande sucesso! Nas casas em que o sanitário ficava nos quintais, era imperativo ter-se um penico debaixo da cama, ou urinol, como queiram, para satisfação das necessidades noturnas. Papel higiênico, talvez fossem recortes de papel de embrulho, de jornais, ou revistas, trazidas de outras localidades Se as condições sanitárias de Salvador eram tão precárias, imagine a de centenas de muinicipios baianos e dos seus respectivos povoados, outrora, quase todos largados à própria sorte.

É "morte e vida Severina", mesmo, com o povo participando de procissões "esperando o que Jesus prometeu", ora, ora, ora. Ao Deus dará ! Com Lula houve muita melhora, não tenho dúvida alguma! 

Cá com meus botões, a gente sofre como a zorra! Um dia alguém irá se dedicar a escrever sobre aspectos vulgares dos costumes de outrora, discorrerá sobre a história das mentalidades e teremos, em séculos vindouros, um horrível veredito sobre como pensavamos e agiamos e como o povo era tratado e governado. Isto é, caso um, ou vários tsunamis, não acabem tudo em um grande dilúvio... (rs)

Sem geladeira...com fogão a lenha e o breu da noite, alumiada com velas, lampeões e fifós de querosene para amenizar a escuridão, só aliviada em noites de lua cheia, era um saco! Sem falar nos insetos noturnos atraídos pela luz.

Não haviam bancas de revistas, nem as famosas fotonovelas. Bom mesmo era deitar-se em uma rede, em área sombreada, e ficar contando estórias da carochinha, as mesmas que ouvia durante minha infância. Sair montado em um cavalo, ou em um jegue, ou em uma mula qualquer, também devia ser algo bom pra se fazer: passear de cavalo. As carroças como meio de transporte de cargas ajuda a compor o cenário do povoado.

Já existiam bicicletas, é verdade ! Recordo que em 1969 aprendi a montar bicicleta na cidade de Santo Estevão, próxima de Feira de Santana. Bicicleta, máquinas fotográficas, telefone, não era para qualquer pessoa, não. Máquinas de filmar já existiam, também. Cinemas só nas cidades grandes...

Como eram as brincadeiras, como era a vida dos seres humanos que por lá sobreviviam em condições inóspitas? tudo se resumia a um balanço, ou gangora, feito em uma árvore? Ou às estripulias de criança que buscavam subir em árvores situadas em meio da caatinga? Passear com a família, aos sábados e domingos, indo visitar parentes e amigos, em outras fazendas das proximidades, parece-me mais saudável!
Nada de ir ao zoológico, afinal, no mato a gente vê tanto bicho que, ao chegar na cidade grande, no zoológico só se vai se for por obrigação e, mesmo assim, com cara enfezada.

Sinceramente, fiquei ultra curioso pra saber como era a vida em um lugar igual e estou doido pra ouvir alguém me contar, através da escrita, comentando neste blogue, suas lembranças e recordações do passado; que me contem uma parte curta da vida, que me digam como foi ser criança, como foi ter infância, numa casa de fazenda, como a de SACAIBÁ. 

Quem era o animador(a) do povoado? sempre tem alguém mais saliente que se manifesta e quase tudo alegra e conduz. Será que havia um violeiro, um acordeon, ou outro instrumento musical qualquer, para festejar as noites de lua cheia, ou o alegre dia em que a chuva veio para aliviar a superficie da terra e fazer a plantação vingar? Viva São José e viva São João o resto é procissão de "Morte e Vida Severiza", com os novos habitantes do pedaço: os garimpeiros!
Crédito do Blog Outros Olhares

OBS: as opiniões dos comentaristas nada tem a ver com o que pensamos. Cada qual que fique com o que a sua imaginação colhe, guarda e veste. 

3 comentários:

Anônimo disse...

A família Gonçalves, face a questões de herança, deixou o imóvel neste estado deplorável. Dizem que ai, chegou a morar, o governador José Gonçalves da Silva. Viver em um local como estes nos anos 50 e 60 deveria ser o fim da picada. Uma falta do que fazer, seca constante, gado morrendo devido a seca, plantações, ora dava, ora não dava. Devia ser assombrador o local. Sinistro. Da infância mesmo só as coalhadas, o queijo, o requeijão, doces e no mais, uma tristeza e uma profunda desinformação. Seu Humberto e esposa criavam filhos ai, imagine o destino que teriam se permanecessem no local? No mais, vaqueiros espertos, meieiros também espertos, lucram mais que os donos. Os que vivem perto do fim do mundo, como bem disse, levam a vantagem de plantar e colher os beneficios que a terra alheia pode conferir. É um lugar de matutos espertos. Agora, dizer que alguém teve infância boa, ali, em comparação a quem viveu em cidades dotadas de infra-estrutura básica e outros fatores, não deixa dúvida que infância por infância, quem disser que teve, pode estar se iludindo. De resto, o matagal era usado, na falta do que faer, para práticas de atos libidinosas, pedofilia, termo atual que não havia. Ainda acontecem casos de pedofilia em Socotó e a policia vem prendendo. Diem que tem um vaqueiro velho que abusava de criancinhas e ele deveria ser ouvido pela policia e o ministério público e as crianças que foram seviciadas, deveriam perder a vergonha e ir à delegacia especiazada. Festa, só o São João. Natal era só tristeza. São João até meninas se embriagavam com o uso de licores, mas nem tudo era ruim, haviam coisas boas que a lembrança não apaga. Como foi que foi parar em Socotó? atrás de esmeraldas?

Anônimo disse...

Companheiro editor, e comentarista, o quadro é desolador. Talvez, quadros como este, em que a civilização anda a passos de tartaruga, justifique o êxodo rural de quem tem alguma aspiração na vida. Viajo muito e tenho visto tanta gente castigada pela pobreza que me dá um nó no coração. A singularidade destas almas, que nos parecem mortas, pode, na simplicidade da vida, na inexistência de quase tudo, reinventar um modo de vida diferente daquele que estamos acostumados a viver. Padrões e valores criados no mato, onde o instinto muitas vezes faz do ser humano mais uma "manada". Imagino o vento uivando, à noite e as pessoas recolhidas na escuridão da noite, tendo como fachos luminosos a luz dos astros e estrelas, lá do alto, donde cremos fica o céu. Hoje, a vida em Socotó melhorou. Tem telefonia, eletricidade, televisão parabólica, mas, em essência, falta muita coisa para dar o sentimento cosmopolita a esta civilização à parte. Olhar meninas lindas castigadas pela pobreza lhe pegando, enquanto forasteiro e dizendo: - me tire daqui. Me leve como você, por favor! São pedidos dramáticos que já escutei de inúmeras garotas desejosas em fugir destes locais em que mais se assemelha ao "fim do mundo". Mas, neste mundico, tem gente que se sente muito bem e muito feliz. Vivem como indigenas, nativos, gente que guarda uma relação de amor com a terra e que sente parte da paisagem (morta?!). É verdade que impera a lei dos mais espertos, sobre os menos espertos e, neste mundico, não deixa de haver esperteza de matutos...
Mas é muito grave saber que há velhos pedofilos morando lá. Isso precisa ser averiguado pelo Ministério Público que deveria anunciar um telefone, um outro meio de contato qualquer, para que meninos e meninas seviciados, possam, não importando o tempo em que cada caso aconteceu, denunciar, para que sejam tomadas as medidas cabíveis e, a comunidade, tome ciência de quem são estes seres do mundo animal. Já se sabe que existe um vaqueiro em SOCOTÓ, velho. Resta saber o nome dele para denuncia-lo ao Ministério público. Quem se pronuncia?

Anônimo disse...

Vixi, mainha! que diabo de lugar é esse? Sei lá como seria a minha infância do jeito que o editor colocou. Não aguento viver longe do mar e de cidades grandes. Só achando uma mina de esmeralda pra eu chegar a tal lugar, mesmo assim só iria para pegar o meu lucro. É muito mau gosto viver essa vida poetica do sertanejo, do homem do campo em uma terra pouco fértil, cheia de garimpeiros que são como ciganos. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

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